sexta-feira, 18 de março de 2011

Viver o Chamado ou Viver a Vida?


Viver o chamado ou viver a vida? Seria esta uma dualidade ou existe a possibilidade de viver ambos caminhos simultaneamente? Como diz a música popular “a vida é bonita e é bonita”. Seria o chamado tão bonito assim? Ou viver o chamado é sinônimo de árduo trabalho e constante fadiga? Esses são alguns dos temas que tenho escrito em um livro que brevemente será publicado, se assim Deus permitir. Lembro-me que dês dos 9 anos já pregava em algumas igrejas batistas como pregador mirim da organização Embaixadores do Rei, e cresci sempre ouvindo: você tem um chamado. No início não entendia nada, associava esse chamado somente com a escolha de se tornar um pastor. Sou chamado logo serei um pastor. Isso era o que eu acreditava, ou melhor, entendia. Muitos me diziam que era para me preparar pois a vida de uma pastor era uma vida de peleja, contavam para mim experiências que demonstravam tais aflições que os apregoadores da Palavra passavam. Certa vez me deram um livro intitulado “Torturados por Cristo”. Boa a leitura. Entretanto, via o meu pastor como um homem de Deus e ele não me parecia, nem um pouco, uma pessoa que sofria torturas diárias ou semanais. Logo questionava, quem sofre pelo evangelho é mais homem de Deus? Seria uma vida de sofrimento a marca fundamental da vivencia de um chamado?


Expressando minha opinião destaco a crença em uma vida de equilíbrio. Talvez neste momento você esteja se perguntando acerca da Palavra: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á” Mt. 16:25. Perder a vida nos remete a ganhar outra. Ou seja, aquele que perder vai achá-la. Ela não ficará perdida. Muitas vezes, em uma leitura pessimista, somente destacamos a palavra “perder” e esquecemos da palavra “achar”. Podemos também entender que perder a nossa vida é a chave para vivermos a vida de Deus, sendo assim, viver a vida de Deus é viver uma vida melhor, se é uma vida melhor constatamos que é uma boa vida. Quero dizer que é possível viver o chamado tendo uma boa vida. Essa expressão “boa vida” pode remeter a significados errôneos diante do que eu quero dizer. Não a descrevo com sentido pejorativo, mas trazendo a pura essência de tais palavras. Não uma vida de regalias e luxo, dinheiro fácil e ostentação. Mas uma vida boa, afinal quem é bom? Deus. Ele é bom, logo a sua vida é boa. Por muito tempo a expectativa do membros das mais diversas denominações era que seu pastor tivesse cara de sofrimento, vivesse somente com o essencial, ou seja, sem o direito de ter um bom carro ou ter o direito de colocar seus filhos em uma boa escola, se este colocasse um terno novo logo diziam: para que tanta vaidade? O entendimento era: aflição sinônimo de pobreza. As aflições do ministério pastoral são muito maiores do que meramente financeiras. Posso atestar isso pois sou pastor. Quantas vezes estamos com tantos problemas e mesmo assim somos obrigados, não somente a ouvir, mas a trazer soluções para os problemas dos outros, e vale dizer, que muitas vezes não temos nem mesmo nossas próprias soluções. Possuímos a aflição de enfrentar o “mercado religioso” e não nos contaminarmos com eles. Enfrentamos as manipulações da massa com um evangelho que nem sempre é tão atrativo, mas é o que nós acreditamos. Enfrentamos o julgamento diário, não somente nosso, mas de nossa família. Tenho dois filhos um de 6 e um de 4, sei que quando eles fazem bagunça na igreja as pessoas olham para eles de maneira distinta das demais crianças. Nossas esposas? Ai delas se tiverem uma TPM, precisam ser a simpatia em pessoa. Enfrentamos a batalha diária de ser exemplo, não te perfeição mais de busca dela. Não que outros cristãos não passem por isso também, mas para nós pastores tal cobrança se dá em níveis aterrorizantes. Não achem que esse meu texto é partidário, pois não tenho nenhuma dificuldade em criticar a nossa classe, portanto as vezes também precisamos de defesa. Se for necessário, que passemos por aflições e tempestades, mas meu desejo é: pastores tenham uma boa vida. Nós já temos aflições demais. Não aceite um fardo que não é seu. Viaje com seus filhos, quem sabe até leve eles a Disney, honre sua esposa com o melhor que você puder. Se puder ter um carro novo tenha. Entretanto ter tudo isso não significa que nossas aflições iram se findar, pois elas nada têm haver com isso. Nossa inquietação espiritual vai continuar, a responsabilidade e a cobrança não sumirão como fumaça que o vento espalha.


É possível viver a vida e viver o chamado. Entretanto o grande desafio é viver a vida sem negligenciar as responsabilidades do chamado. Poderíamos dizer: viva a vida de Deus e que o chamado seja inserido nela, ou viva o chamado mas não se esqueça de viver a vida que Deus o fez achar. Para quem não é pastor: tenha uma boa vida também. Aflição faz parte, mas não pode ser a principal marca da vivencia de um chamado. Jesus viveu 33 anos, desses anos quantos foram vividos e quantos foram somente aflição? Com certeza ele viveu mais. Muito mais. Viva mais você também.


Tenho 30 anos e não me envergonho de dizer, tenho aflições. Mas a minha vida é muito boa! Como pastores trabalhamos muito, o desafio é fazer com que o tempo de trabalho se torne um bom tempo para que o tempo com a nossa família seja ainda melhor. Quando o tempo de trabalho é bom não levamos o peso deste para o tempo de nossa casa. Ai está o segredo. Uma boa vida é formada de distintos tempos, como diz em Eclesiastes, que cada tempo da sua vida seja bom, não perfeito, mas simplesmente bom. A anulação desses tempos não significa a anulação das aflições, pelo contrário, o não cumprimento desses trarão mais profundas aflições do que as aflições trazidas pela vivencia do mesmo.


Termino dizendo que prosperidade financeira não é sinônimo nem de sucesso nem de fracasso ministerial, assim como a pobreza nada tem haver com a fidelidade aos princípios do evangelho. As aflições que temos são muito mais profundas e espirituais do que simplesmente monetárias. Vale dizer também, que prosperidade financeira nada tem haver em ter uma boa vida. Riqueza não é sinônimo de satisfação. Só é possível ter uma boa vida vivendo a vida que Deus nos fez achar. Vamos viver a vida e cumprir o nosso chamado.

Um comentário:

danihiller disse...

Interessante texto. Tenho pensado sobre isso. Como chegar ao equilíbrio sobre o que o ministério nos exige e viver nossa vida. Sou nova no ministério, portanto ainda estou aprendendo a lhe dar com isso.