sábado, 9 de julho de 2011

O Fascínio pelas Sombras



Há coisas na vida que se tornam fascinantes. Coisas simplesmente passam, coisas simplesmente fascinam. Lembro-me da velha cadeira da minha bisavó Dona Olindia. Era uma cadeira de balanço que ficava em um quarto nos fundos da casa. Quando crianças tínhamos fascínio por aquela cadeira, não por seus adornos ou pela qualidade de sua madeira, mas por causa das sombras que ela proporcionava. Nosso fascínio era provocado pelo medo. Diversas vezes eu e meu irmão e alguns primos ficávamos aterrorizados pois parecia que aquela cadeira se movimentava sozinha e quando deixávamos tudo apagado, somente com a luz que adentrava por uma pequena brecha na porta a qual servia para olharmos, um sombra “aterrorizante” se formava e parecia que tinha alguém sentado naquela velha cadeira. Passávamos um bom tempo ajoelhados ante a brecha de uma porta simplesmente para ver a tão famosa sombra. Aquela cadeira já possuía bastante tempo, era bonita, resistente, mas somente olhávamos para ela por causa do fascínio pela sombra.

Muitas vezes as sombras nos fascinam mais que as qualidades do ser “assombrado”. Será que seríamos capazes de passar horas analisando as formas esculturais das mesmas? Claro que não. O medo que as sombras nos causavam era o que nos levava a querer estar ali. O medo daquilo que é desconhecido, daquilo que é ameaçador, mas ao mesmo tempo, fascinante. Tal sentimento é reproduzido em diversos momentos em nossas vidas. Quando a sombra aparece as qualidades são aniquiladas e a curiosidade pelo proibido e desconhecido se projeta sobre as coisas que são normais. Ou seja, é normal ser bom, logo a maldade é que nos fascina. Quantas vezes nos detemos horas e horas para contemplar a maldade e não somos capazes de nos deter para simplesmente admirar o que é óbvio, mas nobre. Infelizmente buscamos a sombra na vida do ser humano, buscamos e evidenciamos, talvez isso se dá pelo medo interior de possuirmos a mesma sombra. Enquanto a sombra está no outro até me fascina a ponto de muitas vezes julgar a sombra como imperdoável, mas quando a mesma cisma em aparecer ao lado de nosso perfil o fascínio dos outros nos incomoda e sentimos a injustiça do olhar fascinado do outro. Triste constatar mas a maldade é fascinante ao ser humano. A prova disso é a maledicência diante do pecado. O mal prolifera pelos lábios com velocidade irracional, enquanto o que é bom vai a ritmo de conta gotas. Círculos são formados para falar de sombras, dificilmente para falar da cadeira. Pessoas se ajoelham diante de brechas para poder ver a sombra do perfil do outro.

O que te fascina? Sombras ou o ser humano? O que valorizamos? O que é bom, e passa por óbvio, ou o mal que envolve o desconhecido? Boas perguntas para nossa vivência. Tadinha da cadeira, nem me lembrava dela, o que me remeteu a ela foi a história da sua sombra. Que as sombras humanas não prevaleçam sobre as qualidades naturais delas. Se fascine por aquilo que é bom, e acredite, hoje em dia não é tão óbvio assim.

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